terça-feira, maio 05, 2009

"Aprendi com a primavera; a deixar-me cortar e voltar sempre inteira."

Cecília Meireles

quinta-feira, abril 09, 2009

Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem...
O ato de ver não é coisa natural.
Precisa ser aprendido.

Rubem Alves

sexta-feira, março 27, 2009

" No café da manhã, minhas certezas servem-se de dúvidas. E têm dias em que me sinto estrangeiro aqui e em qualquer outra parte. Nesses dias, dias sem sol, noites sem lua, nenhum lugar é o meu lugar e não consigo me reconhecer em nada, em ninguém. As palavras não se parecem àquilo que dão nome, e não se parecem nem mesmo ao seu próprio som. Então não estou onde estou. Deixo meu corpo e saio, para longe, para lugar nenhum, e não tenho, nem quero ter, nome algum: então perco a vontade de me chamar ou de ser chamado."

Eduardo Galeano

sábado, fevereiro 28, 2009


Para que a gente escreve se não é pra juntar nossos pedacinhos?

quarta-feira, janeiro 30, 2008

Gato ao Crepúsculo
Poeminha de louvor ao pior inimigo do cão

Millôr Fernandes


Gato manso, branco,
Vadia pela casa,
Sensual, silencioso, sem função.

Gato raro, amarelado,
Feroz se o irritam,
Suficiente na caça à alimentação.

Gato preto, pressago,
Surgindo inesperado
Das esquinas da superstição.

Cai o sol sobre o mar.

E nas sombras de mais uma noite,
Enquanto no céu os aviões
Acendem experimentalmente suas luzes verde-vermelho-verde,
Terminam as diferenças raciais.

Da janela da tarde olho os banhistas tardos
Enquanto, junto ao muro do quintal,
Os gatos todos vão ficando pardos.

sábado, outubro 20, 2007


Desamarrada de mim aconchego-me no sonho que te-me abraça... e adormeço assim...

sexta-feira, maio 11, 2007

A noite está fria e não tem ninguém pra te aquecer os pés...

quarta-feira, maio 09, 2007

Acordou antes do relógio despertar.
Abriu os olhos procurando antigos pedaços conhecidos do que tinha sido seu quarto durante toda a infância.
Não estavam ali.
A janela de venezianas de madeira, aquele teto longe da cama, a outra cama do lado da dela.
Não poderia reconhecer nada.
O quarto era outro, a casa era outra, era outra a cidade...
Ela?
Também outra, ou outras, tinha se sonhado aquela...
Tinha se sonhado menina...

sábado, abril 28, 2007


Fecho os olhos e me apago de mim...

sábado, abril 14, 2007


Um ano de Ana...

segunda-feira, abril 09, 2007

"No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicas que o vento não conseguiu levar..."

Mário Quintana

domingo, abril 08, 2007

Hoje senti cheiro de chuva.
Cheiro bom de chuva!
Ontem também...
Hoje a chuva veio.
Começando mansa e depois crescida, fazendo barulhos no telhado e na janela.
Ontem também...
Hoje desejei que ela durasse para eu me deixar ficar, sem tempo nem hora.
Ontem eu me deixei ficar...
Hoje recebi no quintal a chuva percorrendo meu corpo, descalça e de olhos fechados.
Sorriso no rosto...
Ontem?
Talvez por ontem este momento no hoje...

segunda-feira, abril 02, 2007

Olhos sujos de civilização...
Cresce o desejo de água, cresce o desejo de árvores...
Cresce o desejo...

domingo, abril 01, 2007

Eu não quero mais ser inteira.
Eu não quero mais ser intensa e ao mesmo tempo tão leve.
Eu não quero mais ser leve!
Eu não quero mais ser quente ou fria, porque agora eu quero ser morna.
Eu não quero mais me entregar, me dar em tudo o que faço.
Eu não quero mais acreditar nas pessoas.
Eu não quero mais acreditar na amizade.
Eu não quero mais abrir tanto os meus braços pra receber os outros, nem oferecer meu colo e meu carinho.
Eu não quero mais saber de carinho!
Eu não quero mais olhar nos olhos.
Eu não quero mais sentir o vento.
Eu não quero mais cantarolar no chuveiro, nem na sala, nem em lugar algum.
Eu não quero mais cantar!
Eu não quero mais dançar sem me importar com nada.
Eu não quero mais virar criança junto com o sobrinho.
Eu não quero mais sorrir sem motivo maior.
Eu não quero mais rir, de nada e pra nada!
Eu não quero mais que a minha gata me observe trabalhar sobre o monitor, nem que se aninhe do meu lado no sofá ou me espere na porta de entrada.
Eu não quero mais edredon, filme e pipoca.
Eu não quero mais taças de vinho.
Eu não quero mais velas também.
Eu não quero mais que me amem com força, me amem profundamente e até o fim.
Eu não quero mais que me percorra a pele, me tome o corpo e me tome.
Eu não quero mais!

PRIMEIRO DE ABRIL!
CLARO!

Porque mesmo que eu desejasse, eu não conseguiria "ser menos".
Eu não suportaria este "viver menos"...

domingo, março 25, 2007

Palavras de Poder

Do livro Groucho-Marxismo de Bob Black.


"Vida após a morte: Por que esperar?"


Perfeito não?

Celulares deveriam ter uma espécie de "bafômetro" como dispositivo para bloquear sinal...

quarta-feira, março 21, 2007

Tenho relido muito Álvaro Moreyra!
Reencontrei o livro de páginas amarelas...
Dia desses, em uma conversa pelo msn com o amigo paulista, lhe escrevi uma das frases que mais gosto!

"O pássaro que pousa trás todos os voos nas penas."

Perfeita!
Pra mim pelo menos...
Desde então o "livro de páginas amarelas" tem me acompanhado nas pausas de trabalho.
Fica aqui.
Do lado do computador.
Quando posso eu o abro ao acaso, como sempre gostei de fazer, pra reler algumas palavras...
Hoje li um texto ótimo que ele escreveu no aniversário de 70 anos do poeta Manuel Bandeira.
Entre várias outras coisas ele fala da "impossibilidade do envelhecer".

"Ninguém envelhece.
Os anjos da guarda não deixam.
O que, às vezes há, são pequenos acidentes do lado de fora.
No lado de dentro tudo continua igual.
...
Você é sempre menino."

Meninos...
Meninas...

O sol faz o dia sobre os telhados.
Vai pelas ruas, de onde as casas se estiram.
Não tropeça nem cai...
Vai sem sentir os buracos das calçadas.
Trazendo um despertar manso...
Vai em estado de "bem querer".

Entra pela fresta aberta da janela.

Meu corpo manhoso desperta com ele.
Se "desenovela" do edredon, "desabraça" o travesseiro...
Em estado de bem-querer me levanto.
Nenhum desejo de me encaramujar!
Gosto de acordar assim.
Com sorriso no rosto.
Leve, leve...

Sonhei borboletas esta noite...

Acordei borboleta...

terça-feira, março 20, 2007

A noite veio caindo de mansinho, chorando barulhos indefinidos e o som de jazz que a acompanha durante o resto de trabalho...
Olha o céu.
O céu é de graça.
Está ali.
É só abrir a janela e voltar os olhos pra ele.
Se pinta e repinta, agora recebendo a noite escorrida...
Não quer mais se esquecer em frente do computador.
Precisa sentir o tempo não apenas como cansaço no corpo.
Chega de acordar no escuro e no escuro de novo adormecer!
Quer a passagem da luz...
Quer a mudança da cor...
Quer poder parar pra ver este céu se pintando de noite
Depois,
quem sabe,
ver com ele este céu se pintando de dia...

segunda-feira, março 19, 2007

Hoje acordei segunda-feira.
Nada mais normal, podem dizer, afinal, hoje "é" segunda-feira!
Fazia muito tempo que não acordava tão segunda-feira em uma segunda-feira...

quarta-feira, março 14, 2007

O corpo todo reclama!
Grita!
Na garganta, nos ouvidos, na face.
Em dor aguda.
Aumenta ainda mais a temperatura.
Quem sabe consegue queimar tudo
...

sábado, março 10, 2007

Covardia talvez seja, pra mim, o pior dos defeitos...
Com certeza é dos piores!

quinta-feira, março 08, 2007

"... Que a mulher não perca, nunca, não importa em que mundo, não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade de pássaro; e que acariciada no fundo de si mesma transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre o impossível perfume; e destile sempre o embriagante mel, e cante sempre o inaudível canto da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina do efêmero; e em sua incalculável imperfeição constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda criação."

Vinícius de Moraes


Dos meus presentes recebidos
...

quarta-feira, março 07, 2007

" O que importa é chegar, é reencontrar, reconhecer o estado de alma. Fugir dos jeitos atrapalhados, dos entendimentos ao contrário, pôr os sentimentos na claridade exata, receber na cara, nas mãos, nos ouvidos. a pureza perfumada que sobe do chão para as nuvens, suspirar, do fundo do coração: _ Que bom!"

Álvaro Moreyra

... sonhei uma garota de reticências...

domingo, março 04, 2007

Você me olha
Eu te chamo
Sua, de longe
Até o instante
De não mais poder manter
Estar distante
Chamo
Sua língua em minha boca
Chamo
Seus dentes na minha pele
Chamo
Sua mão nas minhas curvas
Percorrendo cada espaço
Sem pressa
Gosto de você no encanto dos corpos
Gosto de você no encontro dos corpos...
Se mostre
Me explore
Me tenha
Barco em água despertada
Nascente e fonte
De seus dedos
De sua boca

O rio se fez
Você o fez...

sexta-feira, março 02, 2007

Ontem ouvi uma pergunta, um tanto inusitada.

"_ O que é preciso pra te conquistar?"

Acho que nunca pensei nisso assim, de forma tão clara e direta...
Nunca também não sei se posso dizer...
O fato é que me peguei sem resposta no momento.
É fácil dizer o que não gosto.
O que gosto também!
(Ok. Isto muda um pouquinho de acordo com a fase da lua...)
Já o que é preciso pra me conquistar...

Acho que vale pensar no "tema"...



sábado, fevereiro 24, 2007

Ela acordou estranha.
Estranha era um adjetivo que a acompanhava havia bastante tempo, em visitas menos ou mais freqüentes, sem grandes lógicas de chegada ou partida.
Não tinha nenhuma relação com bem ou mal, apesar de seu relato despertar, quase invariavelmente, uma certa preocupação nos amigos.

es.tra.nho adj. 1. Fora do comum; desusado. 2. Que é de fora; estrangeiro; alheio. 3. Singular; extravagante. 4. Misterioso.

Bobagem dos queridos!
Depois de um tempo de preguiça manhosa enrolada no edredon desabraça o travesseiro e percorre aquele quarto com o olhar.
Retalhos de dia invadem o teto branco através da janela perfurada.
Não sabe dizer ao certo se é um dia cinza ou colorido.
Nenhum ruído especial acrescenta dados para uma conclusão precisa.
Na verdade não a deseja.
Prefere a incerteza até abrir as janelas.
A do quarto e a sua.
Tinha dormido tarde.
Na verdade quase sempre dormia tarde, mas o sono tinha parecido desnecessário na noite anterior, uma invasão, como prótese pra quem sequer usa bengala.
Teria passado toda a noite acordada.
Obrigou o corpo e a mente a uma pausa, repouso, descanso.
Agora aquela preguiça de despertar por inteiro...
O resto de cheiro de cigarro no cabelo a lembrava que havia desistido de lavá-lo antes de se deitar.
Não gostava do cheiro de cigarro mas ele não a impedia de estar em nenhum lugar.
Os amigos, a música, a dança, tudo parecia maior que aquele incômodo.
Levantar.
Era preciso levantar.
Será mesmo?
Mais cinco minutos de dúvida, mais cinco minutos de “se deixar ficar”.
Agora o rosto no espelho do banheiro.
Parecia o rosto de outra pessoa.
Muitas vezes aquele rosto parecia outro, como se transfigurasse ao longo do dia.
Com os cabelos presos leva as mãos em concha até o fio de água que corre da torneira.
Repete o movimento algumas vezes até se satisfazer com o frescor oferecido.
Rosto molhado, pés descalços, sobre o corpo aquela camiseta esquecida e nas mãos um copo d'água.
Sempre um copo d'água ao acordar!
Não tinha nada a ver com ressaca, com a noite anterior, era hábito adquirido, nem lembrava ao certo a quanto tempo... Quando criança...
Ouviu um dia do pai que era preciso “acordar” o corpo com um copo d'água.
“A primeira coisa deve ser a água. Antes do café da manhã.”
Foi assim que começou...
Agora o cheiro bom do café forte que acabava de sair da cafeteira italiana.
Invadindo a casa, a invadindo...
A torrada de pão preto, a manteiga derretida, as frutas com granola na louça branca.
As flores na mesa.
O apartamento está vazio. Ninguém além dela.
Mesmo assim o “ritual”, com carinho, com cuidado, com prazer.
Carinho por ela, cuidado dela, seu prazer...
Sobre a mesa alguns cds “esquecidos” e entre eles Morphine. Cure for Pain.
Lembrou “daquele” e pensou “nele”.
Eram muito diferentes, quando se olha rapidamente, mas ela os tinha olhado um pouco mais que a maioria das pessoas...
Os dois traziam uma dor, um peso, uma solidão...
Não sabiam, entendiam, permitiam o “ser feliz”.
Sem dúvida formas diferentes de lidar com tudo isso, de se perceberem no tudo isso!
Já a dor...
Havia tentado ser sopro.
Acabou retirando fuligens que depois de ausentes permitiam um enxergar que doía.
Sua leveza parecia causar muitos “estragos” naqueles placebos de vida...
Mais uma vez?
Será?
Talvez fosse melhor parar...

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Los Amigos

"En el tabaco, en el café, en el vino,
al borde de la noche se levantan
como esas voces que a lo lejos cantan
sin que se sepa qué, por el camino.

Livianamente hermanos del destino,
dióscuros, sombras pálidas, me espantan
las moscas de los hábitos, me aguantan
que siga a flote entre tanto remolino.

Los muertos hablan más pero al oído,
y los vivos son mano tibia y techo,
suma de lo ganado y lo perdido.

Así un día en la barca de la sombra,
de tanta ausencia abrigará mi pecho
esta antigua ternura que los nombra."

Julio Cortázar

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Lua Adversa

Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha

Fases que vão e que vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.

E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases, como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...

Cecília Meireles

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Só uma pequena "crise trabalho"...

terça-feira, fevereiro 06, 2007


Quero chá, colo e cafuné...

Sei que dizem por aí que não "preciso" ser cuidada.
Hoje eu quero!

Gripe...

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Foi um adormecer estranho...
Adormecer sempre parece despedida!
Despedida sem palavras.
Despedida debaixo dos silêncios...
Tudo bem, um até breve.
Até o acordar...
Desta vez a despedida do adormecer veio debaixo de silêncios cheios de sons.
Mais sons que as frases ditas, que as palavras ouvidas.
Ela sabia que aquele silêncio cheio de sons no adormecer traria sono confuso, torto, doído.
Sonhos de asa quebrada.
Assim foi durante grande parte da noite.
Acordava sem entender direito onde estava, sem sentir direito o corpo que dormente parecia que ainda sonhava.
Adormecia de novo.
De novo corpo e mente sonhando.
Sonhavam o mesmo sonho de asa quebrada...
De tão estranho parecia um sonho novo, mas a asa quebrada...
Era sem dúvida sempre o mesmo sonho.
Até que de novo acordou.
Só mais um acordar dos muitos que preencheriam a noite, pensou.
Sentia calor.
Virou pra se livrar de parte do lençol.
Deixar livre o corpo nu.
O vê.
Ele dormia.
Por instantes ela vela aquele dormir com a intensidade de quem sente as ondas do mar.
Vela aquela respiração com ternura.
Sem resistir, toca.
Com pontas de dedos macios, tímidos e mansos ela lhe toca o pescoço.
Pressente naquele rosto, agora só quase adormecido, um sorriso ameno.
Ele mergulha, numa carícia lenta, as mãos na profundidade dos seus cabelos.
Ela lhe dá um último pedaço de olhar e adormece de novo.
Mais uma vez o sono.
Mais uma vez o sonho.
Agora outro.
Sonho sem asas quebradas...

Ele percorre o rosto dela com a mão.
Cada linha, cada traço.
De olhos fechados a esculpe na lembrança.
Toca a sua boca com os dedos.
Ela o morde de leve e sorri.
Riem.
Se olham.
Se olham cada vez mais de perto.
Tão perto que suas respirações se confundem e confundidas se encontram em um beijo.
Se beijam.
Assim permanecem em beijo de corpo todo...
Corpos quentes, corpos suados.
Habitam-se...
Misturam-se...
Choram-se...
Ele percorre a suavidade daquela pele macia e se deixa ficar longamente em cada curva.
Depois guarda as suas mãos nas dele.
Ela se aconchega um pouco mais.
Completamente entregue.
Parece "tremular como lua na água".
Adormecem e sonham.

Adormecem e sonham naquele sonho que não é sonho de asas quebradas...


Entregue-se!
Abra todas as suas portas e janelas!

"nada mais doce
que dois corpos ardendo no mesmo fogo
sugando e sorvendo a beleza
da mesma língua"

Será que consegue?

terça-feira, janeiro 30, 2007

"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei.
Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento."

Clarice Lispector

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Tenho trabalhado estes dias em um lugar que não é meu.
Na verdade tem um tempo que estou sem um meu lugar.
Pra quem conhece o "motivo do surgir" deste blog entende bem do que estou falando...
Não é sobre isso que quero falar!
O fato é que busquei a casa vazia do meu irmão pra poder terminar um trabalho (trabalho de 2 meses que tem prazo de menos de 2 semanas).
Precisava da possibilidade do sozinha.
Sem pausas e interrupções (só as que eu desejar, ou ainda, precisar).
Como o lugar não é meu, também meus não são os objetos, os livros, os cds...
Mais do que gosto, tenho precisado dos livros nas pausas e da música durante o processo.
O problema com as pausas foi mais fácil de resolver.
Foram poucas, preenchidas pela leitura de "Roland Barthes por Roland Barthes" na rede da sala.
Já a música...
Pra tantas horas de trabalho, as mesmas (ou quase) horas de música.
Pelo menos era esse o desejo.
O início foi fácil.
Um cd da Carla Bruni (meu inclusive) que estava sobre a mesa de trabalho.
Depois, Tom Waits, Radiohed, Bjork, desliso pra Elza Soares, Clara Nunes, Caetano, e vou percorrendo os cds que estão por aqui.
Esgotada a fonte descubro Piazzolla no iTunes e no meio, Orleans-accordeon.
Orleans-accordeon!
Agora no repeat.
Só mais uma vez!

P.S.: Aos amigos que me têm no msn e por isso sabem o que estou ouvindo.

Está tudo bem!
Não é um surto!

sábado, janeiro 27, 2007

Hoje não queria o texto, nem a fala em língua conhecida.
Até da música só a sonoridade!
Não que bastassem instrumentos.
Quero as palavras, a língua a dizer algo, mas algo que eu não entenda literal.
Só imagine...
Suspeite alegre ou triste, ligeiro e leve, noturno e denso...
Só imagine...
Mais.
Só sinta...
Quero abrir outros ouvidos, lavar os olhos, limpar os gestos e assim falar e ouvir.
Falar e ouvir numa língua que não é minha nem sua.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Samba na Obra

Vestido rodado e longo, cabelos soltos e pés descalços.
Olhos fechados, sorriso aberto e vento no rosto.
Dançar assim...
Até não sentir mais o corpo.

Hoje não dá.

Possibilidade: Samba na Obra
O vestido pode ser rodado, mas curto.
Cabelos presos pra suportar o calor.
Muito bem calçada!
E o vento no rosto só se for do ventilador.
Olhos fechados e sorriso aberto não é problema.
Se bem...
Não é até que algum cara entenda errado, ou pior, a namorada dele...

Será?
Talvez seja melhor colocar Clara Nunes no computador mesmo, abrir a janela, afastar os móveis e depois de dançar até não sentir mais o corpo se jogar entregue no sofá.

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Babel

Minha tarde hoje foi, no mínimo, especial!
Fui assistir Babel. O último filme do diretor mexicano Alejandro Gonzales (diretor de Amores Brutos e 21 Gramas).
A definição de um filme "necessário" feito por um querido é simplesmente perfeita!
Quem não assistiu ainda assista, e quem já assistiu vá ver de novo e de novo (aliás, é uma aquisição certa pra minha "coleção" de filmes em DVD).
Sei que deveria estar completamente envolvida com o projeto que tenho que entregar até o fim do mês, mas foi impossível não parar pra "externizar" (pelo menos um pouquinho) minhas impressões sobre Babel.
O título do filme, claro, nos remete à lendária Torre de Babel. Uma construção enorme, na antiga Babilônia, que um dia, penetrando o céu, permitiria aos homens alcançá-lo. Diz a lenda que Deus, irritado com a pretenção humana, resolve intervir e faz com que os homens comecem a falar em línguas diferentes. Sem conseguirem mais se entender não concluem a obra. Os desentendimentos são tantos que cada grupo parte então para um canto da terra e as diferentes línguas separariam a humanidade desde então.
Na "Babel" de Alejandro essa dificuldade de comunição vai além das barreiras linguísticas. Existem barreiras culturais, barreiras pessoais...
Ele nos joga na cara nossa incapacidade ou no mínimo dificuldade de expressão e comunicação num nível fundamental...
Estamos cada vez mais surdos e essa surdez ultrapassa o simples ouvir.
Apesar das fronteiras físicas parecerem cada vez mais tênues com o processo de globalização, com as tecnologias de comunicação, nossas "fronteiras internas", "fronteiras de alma" parecem cada vez mais delimitadas.
O diferente é perigoso. O diferente é incompreendido...
Lindo!
De uma beleza que dói...
Além de todas as questões de dificuldade de comunicação, compreensão, entendimento abordadas no filme, ele tem cenas de uma intensidade, de uma carga emocional, que nos faz parar de respirar!

Roteiro, direção, fotografia, trilha sonora, tudo!

"... Proporciona uma vertigem de emoções."

(As palavras não são minhas, mas...)
Maravilhoso, intenso, tocante!
Me arrepio e emociono só de lembrar...
Como nos outros filmes deste diretor, existe um enredar de tramas numa "tapeçaria" cinematográfica. Ele tece uma história de histórias que se interligam.

(Teoria do Caos?)
Marrocos, Estados Unidos, México e Japão se cruzam.
A variedade de cidades (posso dizer mesmo de países, continentes) que se tocam através do que, no primeiro momento, parece um fato isolado, uma fatalidade decorrente de uma "brincadeira" de meninos, nos dá uma sensação de que o mundo todo é muito próximo...
Somos todos seres humanos...
Paradoxal.
Em um mesmo filme o que nos separa e o que nos aproxima...

Chega de "tentar" falar qualquer coisa!
Assistam!!

terça-feira, janeiro 23, 2007

Hum!!!

Acordei com um desejo de "Semifredo Mouro e Cristão"!
Na verdade saí da Bahia com este desejo, que não saciado vem me "tomar" vez ou outra.
Quem experimentou esta delícia deve entender bem...
Nem mouro nem cristão, dos deuses!
Só pra ter uma idéia da delícia.
Sobremesa gelada.
Não é sorvete!
Textura...
Visual...
É, sou adepta dos que que comem com os olhos, com o olfato, antes de se fartarem com os sabores.
Mas sobre a sobremesa dos deuses...
Creme de café com chocolate amargo (Mouro), creme de canela com chocolate branco (Cristão), geléia de pimenta e calda de hortelã.
Inacreditável!
Orgasmo gastronômico!

segunda-feira, janeiro 22, 2007

_"Sotaque mineirinho!"
_ Claro! Queria que fosse paulista?

O comentário ouvido hoje no celular me fez lembrar de um texto que recebi ano passado.
Ótimo!
Cheguei a encaminhar para o amigo paulista professor de literatura que também gostou muito (passou para os alunos até).
Pena que não sei o autor...


"
Ouvi dizerem que o sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou
engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos
colaterais, como é que o falar das mineiras ficou de fora?

Porque, Deus, que sotaque! Mineira devia nascer com tarja preta
avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho,
me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de
perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor. Eu sou
suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase
propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo
sotaque.

Mas, se o sotaque desarma, as expressões são capítulos à parte. Não
vou exagerar, dizendo que a gente não se entende... Mas que é algo
delicioso descobrir, aos poucos, as expressões daqui, ah isso é...

Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem,
sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode
parar, dizem: "pó parar". Não dizem: onde eu estou? dizem: "ôncôtô?").
Parece que as palavras, para os mineiros, são como aqueles chatos que
pedem carona. Quando você percebe a roubada, prefere deixá-los no
caminho.

Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e
levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando -
apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não.

Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade.
Fala que ele é "bom de serviço". Pouco importa que seja um juiz, um
jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro -
metaforicamente falando, claro – ele é bom de serviço. Faz sentido...

Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se
encontram, uma delas há de perguntar pra outra: "cê tá boa?" Para mim,
isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela está boa, é como
perguntar a um peixe se ele sabe nadar. Desnecessário.

Há outras. Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher
casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: - Mexe com
isso não, sô (leia-se: sai dessa, é fria, etc).

O verbo "mexer", para os mineiros, tem os mais amplos significados.
Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com o que você
mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.

Os mineiros também não gostam do verbo conseguir. Aqui ninguém
consegue nada. Você "não dá conta". Siôcê (se você) acha que não vai
chegar a tempo, você liga e diz:

- Aqui, não vou dar conta de chegar na hora, não, sô.

Esse "aqui" é outro que só tem aqui. É antecedente obrigatório, sob
pena de punição pública, de qualquer frase. É mais usada, no entanto,
quando você quer falar e não estão lhe dando muita atenção: é uma
forma de dizer, olá, me escutem, por favor. É a última instância antes
de jogar um pão de queijo na cabeça do interlocutor.

Mineiras não dizem "apaixonado por". Dizem, sabe-se lá por que,
"apaixonado com". Soa engraçado aos ouvidos forasteiros. Ouve-se a
toda hora: "Ah, eu apaixonei com ele...". Ou: "sou doida com ele"
(ele, no caso, pode ser você, um carro, um cachorro). Elas vivem
apaixonadas COM alguma coisa.

Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de
bonitim, fechadim, e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: "E aí,
vão?". Traduzo: "E aí, vamos?". Não caia na besteira de esperar um
"vamos" completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.

Na verdade, o mineiro é o baiano lingüístico. A preguiça chegou aqui e
armou rede. O mineiro não pronuncia uma palavra completa nem com uma
arma apontada para a cabeça.

Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas
prefiro, com todo respeito, o mineirês. Nada pessoal. Aqui certas
regras não entram. São barradas pelas montanhas. Por exemplo: em
Minas, se você quiser falar que precisa ir a um lugar, vai dizer: - Eu
preciso de ir.

Onde os mineiros arrumaram esse "de", aí no meio, é uma boa pergunta.
Só não me perguntem. Mas que ele existe, existe. Asseguro que sim, com
escritura lavrada em cartório. Deixa eu repetir, porque é importante.
Aqui em Minas ninguém precisa ir a lugar nenhum. Entendam... Você não
precisa ir, você "precisa de ir". Você não precisa viajar, você
"precisa de viajar". Se você chamar sua filha para acompanhá-la ao
supermercado, ela reclamará: - Ah, mãe, eu preciso de ir?

No supermercado, o mineiro não faz muitas compras, ele compra "um
tanto de coisa". O supermercado não estará lotado, ele terá "um tanto
de gente". Se a fila do caixa não anda, é porque está "agarrando lá na
frente". Entendeu? Deus, tenho que explicar tudo. Não vou ficar
procurando sinônimo, que diabo. E não digo mais nada, leitor, você
está agarrando meu texto. Agarrar é agarrar, ora! Se, saindo do
supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará:
"- Ai, gente, que dó".

É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas
mineiras. Eu aviso que vá se apaixonar na China, que lá está sobrando
gente. E não vem caçar confusão pro meu lado.

Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro "caça confusão".
Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar,
para se fazer entendido, que ele "vive caçando confusão".

Para uma mineira falar do meu desempenho sexual, ou dizer que algo é
muitíssimo bom (acho que dá na mesma), ela, se for jovem, vai gritar:
"Ôu, é sem noção". Entendeu, leitora? É sem noção! Você não tem,
leitora, idéia do tanto de bom que é. Só não esqueça, por favor, o
"Ôu" no começo, porque sem ele não dá para dar noção do tanto que algo
é sem noção, entendeu?

Ouço a leitora chiar: "- Capaz..." Vocês já ouviram esse "capaz"? É
lindo. Quer dizer o quê? Sei lá, quer dizer "tá fácil que eu faça
isso", com algumas toneladas de ironia. Gente, ando um péssimo
tradutor. Se você propõe a sua namorada um sexo a três (com as amigas
dela), provavelmente ouvirá um "capaz..." como resposta. Se, em
vingança contra a recusa, você ameaçar casar com a Gisele Bundchen,
ela dirá: "ô dó dôcê". Entendeu agora?

Não? Deixa para lá. É parecido com o "nem...". Já ouviu o "nem..."?
Completo ele fica: "- Ah, neeeeem..."

O que significa? Significa, amigo leitor, que a mineira que o
pronunciou não fará o que você propôs de jeito nenhum. Mas de jeito
nenhum. Você diz: "Meu amor, cê anima de comer um tropeiro no
Mineirão?". Resposta: "neeeem..." Ainda não entendeu? Uai, nem é nem.
Leitor, você é meio burrinho ou é impressão?

A propósito, um mineiro não pergunta: "você não vai?". A pergunta,
mineiramente falando, seria: "cê não anima de ir"? Tão simples. O
resto do Brasil complica tudo. "É, ué, cês dão umas volta pra falar os
trem..."

Ei, leitor, pára de babar. Que coisa feia. Olha o teclado todo
molhado. Vai dar curto circuito! Chega, não conto mais nada. Está bem,
está bem, mas se comporte.

Falando em "ei...". As mineiras falam assim, usando, curiosamente, o
"ei" no lugar do "oi". Você liga, e elas atendem lindamente:
"eiiii!!!", com muitos pontos de exclamação, a depender da saudade...

Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo
problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é
para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras.

Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer
que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar: - Ah,
fui lá comprar umas coisas... "- Que' s coisa?" - ela retrucará.

Acreditam? O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que.

Ouvi de uma menina culta um "pelas metade", no lugar de "pela metade".
E se você acusar injustamente uma mineira, ela, chorosa,
confidenciará: - Ele pôs a culpa "ni mim".

A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios, em Minas... Ontem, uma
senhora docemente me consolou: "preocupa não, bobo!". E meus ouvidos,
já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam.
Talvez se espantassem se ouvissem um: "não se preocupe", ou algo
assim. A fórmula mineira é sintética e diz tudo.

Até o tchau. em Minas. é personalizado. Ninguém diz tchau pura e
simplesmente. Aqui se diz: "tchau pro cê", "tchau pro cês". É útil
deixar claro o destinatário do tchau. O tchau, meu filho, é prôcê, não
é pra outro, 'tendeu?"



domingo, janeiro 21, 2007

“O correr da Vida embrulha tudo, a vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem”.

Guimarães Rosa, em Grande Sertão

quinta-feira, janeiro 18, 2007

16/01/2007


"Viagem é alongamento de horizonte humano."

Cecília Meireles

12/01/2007

Mar Absoluto

Foi desde sempre o mar,
E multidões passadas me empurravam
como o barco esquecido.

Agora recordo que falavam
da revolta dos ventos,
de linhos, de cordas, de ferros,
de sereias dadas à costa.

E o rosto de meus avós estava caído
pelos mares do Oriente, com seus corais e pérolas,
e pelos mares do Norte, duros de gelo.

Então, é comigo que falam,
sou eu que devo ir.
Porque não há ninguém,
tão decidido a amar e a obedecer a seus mortos.

E tenho de procurar meus tios remotos afogados.
Tenho de levar-lhes redes de rezas,
campos convertidos em velas,
barcas sobrenaturais
com peixes mensageiros
e cantos náuticos.

E fico tonta.
acordada de repente nas praias tumultuosas.
E apressam-me, e não me deixam sequer mirar a rosa-dos-ventos.
"Para adiante! Pelo mar largo!
Livrando o corpo da lição da areia!
Ao mar! - Disciplina humana para a empresa da vida!"
Meu sangue entende-se com essas vozes poderosas.
A solidez da terra, monótona,
parece-mos fraca ilusão.
Queremos a ilusão grande do mar,
multiplicada em suas malhas de perigo.

Queremos a sua solidão robusta,
uma solidão para todos os lados,
uma ausência humana que se opõe ao mesquinho formigar do mundo,
e faz o tempo inteiriço, livre das lutas de cada dia.

O alento heróico do mar tem seu pólo secreto,
que os homens sentem, seduzidos e medrosos.

O mar é só mar, desprovido de apegos,
matando-se e recuperando-se,
correndo como um touro azul por sua própria sombra,
e arremetendo com bravura contra ninguém,
e sendo depois a pura sombra de si mesmo,
por si mesmo vencido. É o seu grande exercício.

Não precisa do destino fixo da terra,
ele que, ao mesmo tempo,
é o dançarino e a sua dança.

Tem um reino de metamorfose, para experiência:
seu corpo é o seu próprio jogo,
e sua eternidade lúdica
não apenas gratuita: mas perfeita.

Baralha seus altos contrastes:
cavalo, épico, anêmona suave,
entrega-se todos, despreza ritmo
jardins, estrelas, caudas, antenas, olhos, mas é desfolhado,
cego, nu, dono apenas de si,
da sua terminante grandeza despojada.

Não se esquece que é água, ao desdobrar suas visões:
água de todas as possibilidades,
mas sem fraqueza nenhuma.

E assim como água fala-me.
Atira-me búzios, como lembranças de sua voz,
e estrelas eriçadas, como convite ao meu destino.

Não me chama para que siga por cima dele,
nem por dentro de si:
mas para que me converta nele mesmo. É o seu máximo dom.
Não me quer arrastar como meus tios outrora,
nem lentamente conduzida.
como meus avós, de serenos olhos certeiros.

Aceita-me apenas convertida em sua natureza:
plástica, fluida, disponível,
igual a ele, em constante solilóquio,
sem exigências de princípio e fim,
desprendida de terra e céu.

E eu, que viera cautelosa,
por procurar gente passada,
suspeito que me enganei,
que há outras ordens, que não foram ouvidas;
que uma outra boca falava: não somente a de antigos mortos,
e o mar a que me mandam não é apenas este mar.

Não é apenas este mar que reboa nas minhas vidraças,
mas outro, que se parece com ele
como se parecem os vultos dos sonhos dormidos.
E entre água e estrela estudo a solidão.

E recordo minha herança de cordas e âncoras,
e encontro tudo sobre-humano.
E este mar visível levanta para mim
uma face espantosa.

E retrai-se, ao dizer-me o que preciso.
E é logo uma pequena concha fervilhante,
nódoa líquida e instável,
célula azul sumindo-se
no reino de um outro mar:
ah! do Mar Absoluto.

Cecília Meireles

11/01/2007

Caminhava sobre as águas com um andar de quem perdeu regresso e asteava o olhar em direção ao horizonte liquefeito.
Vestia aquela areia de purpurina dourada.
Estrela tombada do céu...
O sol descia no horizonte e ela começou a descer ao mar. Como que a percorrer uma escada rumo ao "infinito sem fundura".
Lentamente e com a alma a sussurrar uma melodia antiga.
Sentia o cariciar das águas e se entregou a aquele amante que a afagava suave como se tivesse dedos e nas pontas dos dedos coração.
Mergulhou com sorriso no rosto, sorriso no corpo inteiro.
Se misturou com o mar.


Foi um sonho..
.

10/01/2007

Praia de Santo Antônio.

O vento foi me vestindo com a areia fina.
Fecho os olhos pois os quero nus...

05/01/2007

A manhã acordou cinza e eu acordei mais cinza que a manhã.
Estranho acordar tão cinza aqui!
Ainda mais sem nenhum motivo.
Talvez a lua fantasmagórica de ontem a caminho de casa.
Quem sabe a sensação clara de ter sonhado intensamente durante toda a noite e não conseguir de nada lembrar.
Presságio que não cumpriu seu papel...
Não sei dizer.
Só sei do desejo de me encaramujar.
Desejo forte que me prende mais tempo dentro do quarto, até que o barulho do dia me faz levantar.
Risadas de crianças brincando, algum barulho de bola distante, ruídos que não consigo identificar muito bem mas que parecem coloridos.
O dia não pode estar tão cinza mais!
A água percorre o corpo.
Gosto da sensação logo depois de acordar.
Corpo seco, protetor em toda pele, visto o biquini, uma roupa leve sobre ele e saio.
O mesmo caminho que tenho feito todas as manhãs.
1h, 1h e 30min caminhando na praia.
Vento no rosto...
Tão bom! Principalmente com os cabelos soltos.
O barulho do mar.
A espuma branca.
As ondas que vêm lamber os pés, as pernas.
Hoje, mais que nos outros dias, uma solidão plena.
Uma liberdade que não sei bem como usar em alguns momentos, mas que aqui me extasia, me assume e eu a assumo.
Chove e eu pareço chover junto.
Me misturando com o mar, a areia.
Me misturando com o vento...
Volto pra casa com mais cores que todas as cores das minhas caixas de lápis de cor...

07/01/2007

eu pensei em você...

... resolvi escrever um texto aqui do Vinícius de Moraes que diz entre outras coisas que esse ano eu vou viver...
Descobri que venho fazendo isso e tudo o mais que ele fala e estou bem mais feliz.
Quem sabe tem mais alguem pra ler estas palavras...

"Chega de ficar quebrando a cara
Com os velhos erros de sempre.
Quero cometer erros novos,
Passar por apertos diferentes,
Experimentar situações desconhecidas,
Sair da rotina e do lugar comum.
Esse ano eu preciso crescer.
Chega de saber a saída
E ficar parado na porta,
Ensaiando os passos
Sem nunca entrar na estrada,
Esperando que me venha
O que eu mais preciso encontrar.
Esse ano, se eu tiver que sofrer,
será por sofrimentos reais
nunca mais por males imaginários,
Preocupado com coisas
Que jamais acontecerão.
Chega de planejar o futuro e tropeçar no presente.
Chega de pensar demais e fazer de menos.
Chega de pensar de um jeito e fazer de outro.
Chega do corpo dizer sim e a cabeça não.
Chega desses intermináveis conflitos que
Me fazem adiar para nunca a minha decisão.
Este ano eu vou viver."

03/01/2007

Noite de lua cheia...

"Estou sentindo o martírio de uma inoportuna sensualidade. De madrugada acordo cheia de frutos. Quem virá colher os frutos da minha vida?"


02/01/2007

"Pode-se amassar a alma e dobrá-la.
Pode-se feri-la e marcá-la com cicatrizes.
Pode-se deixar nela os sinais da doença e as queimaduras do medo.
Mas ela não morre, pois está protegida. "


Ela é tanto quem descobre os ossos quanto quem os incuba...


01/01 Reveillon de Piratas

Reveillon de Piratas...
Foi assim o meu.
Com direito a histórias encantadas, mapas em língua estranha, tesouros enterrados na areia e uma lua quase cheia aumentando a magia daquelas horas.
Depois da contagem regressiva, dos fogos estourando, dos abraços acompanhados de um clássico "Feliz Ano Novo", pular sete ondas, derramar algumas lágrimas, deixar o mar lamber os pés e as pernas, segurando o vestido longo e branco no alto das coxas...
Depois.
Sair andando pela praia.
Em uma das mãos a sandália e na outra a mão do sobrinho, que vez ou outra escapole e corre na frente encantado com a captura (durante alguns instantes) dos siris.


"_ Vou jogar pra cima! Em quem cair caiu!"


Gritinhos seguidos de risadas.
Mais uma vez era brincadeira e o bichinho volta pra areia.
Caminhamos até qualquer lugar, entre nada e coisa alguma, e nos assentamos na areia.


(Continua)



31/12/2006

Back to life, back to reality...

"Quem teve a idéia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente"

Carlos Drummond de Andrade


E que seja!

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Quase chegando!
Saio de viagem na madrugada de 25 para 26.
Durante estes dias que ficarei em Santo André, estarei longe destas páginas negras.
Se bem me conheço, acabarei adotando as pautadas páginas de algum caderninho comprado na mercearia do Paulo.
Ele começará me acompanhando nas horas sem pressa na varanda da casa.
Depois, algumas vezes, irá comigo visitar o mar, a sombra da castanheira, o rio.
Com uma frequência maior ou menor preencherei aquelas linhas.
Parte de tudo isso estará aqui quando eu voltar.


Um deixar ficar sem hora
Preguiça manhosa


quarta-feira, dezembro 20, 2006

Amor sem explicação

"De uma gostei,
pensando:
- são os olhos
A outra amei,
julgando:
- são as pernas
De outras,
os cabelos,
a boca,
o endiabrado sexo.
Assim, a fonte do amor
ia, em vão, localizando.

Agora estou perplexo:
olho teus olhos,
tuas coxas,
tua boca,
teus cabelos,
teu etc.

- De onde a sedução?

Desarvorado desabo
no teu corpo,
ponho-me a amar, estupefato,
dispensando explicação."

Affonso Romano de Santa"anna


Um presente recebido...
Nem preciso dizer que amei!

terça-feira, dezembro 19, 2006


Uma borboleta veio ouvir Cartola pousada na vidraça...

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Corra e olhe para o céu

Vida te sinto mais bela
Te fico na espera
Me sinto tão só, mal
O tempo que passa
Em dor maior, bem maior
Vida no que se apresenta
O triste se ausenta
Fez-se a alegria

Corra e olhe o céu
Que o sol vem trazendo bom dia
Ai corra e olhe o céu
Que o sol vem trazendo bom dia

(Cartola)


Está se escondendo
Se esconde dele mesmo
Imagens nubladas
Afetos tumultuados
Escapolem num repente
Se arrepende, mas é tarde
Sempre tarde
Não
Nem isso

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Sorte de Hoje: "Se seus desejos não forem estravagantes, eles serão realizados." Que tipo de sorte é essa?

Abro meu e-mail mais tarde do que o normal.
Queria adiar um pouco.
Cansada da classsificação "ocupado" constante no meu msn...
Não chegou.
Posso ligar e avisar, ou cobrar mesmo.
Mais um tempinho de "disponível" não vai matar ninguém!
Vou esperar.
Se não chegar...
Um novo e-mail da Festinha de Natal.
150 agora!
Não é força de expressão! 150 mesmo!
Ainda bem que tenho gmail! Tá divertido.
Notícias daquele geminiano querido que está lá na Argentina.
Prometo mais uma vez, pra mim, que em julho nos encontramos.
Convite pro lançamento da Graffiti.
Mensagens de fim de ano.
Fotos novas da sobrinha.
Comunicados de recados recebidos no orkut.
Fico feliz por ter conseguido encontrar "ao vivo" com alguns queridos ontem.
Três semanas de "contato" apenas via scrap...
A cada abraço a mesma frase: Você sumiu demais! Saudade!
No lugar da caipirinha de sempre uma tequila.
A mesa nas Baianas vai recebendo caras novas.
Butecagem boa...
Os recados!
Vou até a minha página.
Um "saudade sofrida" daquela coisinha loira de buchechas rosadas vindo lá da Irlanda!
"Uêba" da amiga que tinha combinado uma jogatina no sábado.
"Sumiu ontem" da querida, amor novo, que não encontro a tempo demais.
"Eu quero"
"Obrigada querida..."
" Chegou?!"
"Tem!"
"Caraca..."
"Eu animo fazer uma beringela bacanuda..."
Recado fantasma.
O que será que escreveu, desistiu e apagou?
Prefiro os recados de celular. Depois de apertar o "enviar" não dá pra desistir.
Não deixa de ser arriscado.
Ainda mais em certos momentos...
Quem disse que o calculado, avaliado e reavalidado, pensado dez vezes é o melhor?
Uma certa dose de impulsividade faz bem!
Sair da página de recados e ir até a página inicial.
"Agenda eletrônica" com os próximos amigos aniversariantes.
Ninguém hoje.
Visitantes recentes.
Nomes que estão sempre ali e outros...
Sorte de hoje.
Que tipo de sorte é essa?
"Se seus desejos não forem estravagantes,eles serão realizados."
Quem sabe/pode classificar desejos?
Desejo é desejo e pronto!
Alguns mudam com o tempo.
Mudam com a gente...

Saudade distante / Desejo de telefonema, carta, postal, e-mail, msn e skipe
Saudade perto / Desejo de encontro na esquina, café ou "buteco", jantar em casa, conversas na madrugada

Tristeza / Desejo de sorriso do sobrinho (com carinho no rosto então!)
Insônia / Desejo de filmes velhos na tv

Febre/ Desejo de chá, colo e cafuné
Cólica / Desejo de bolsa de água quente
Falta de ar / Desejo de "bombinha" (melhor manter sempre ao alcance)
Cansaço / Desejo de um banho quente e massagem nas costas
Noites de frio / Desejo de edredon, meias e chocolate quente na caneca branca (com conhaque e uma pitada de canela)
Tardes de chuva / Desejo de sofá, filme e pipoca
Dias de inverno / Desejo de céu azul

Praia / Desejo de lua cheia
Domingo / Desejo de família e amigos queridos
Manhãs de segunda / Desejo de mais cinco minutos de domingo (só mais cinco!)
Olhos cansados de civilização / Desejo de árvores e água
Café expresso / Desejo de barrinha de chocolate
Feijoada / Desejo de tarde de sábado no Nutreal

Uma boa massa / Desejo de um bom vinho tinto (com uma boa companhia fica melhor ainda)

Qualquer hora / Desejo de Miles Davis, Billie Holiday, Ella Fitzgerald, Nina Simone, Chet Backer, Coltrane...
Qualquer hora 2 / Desejo de Chico, Cartola, Noel,Vinícius, Caetano (antigo por favor)...
Qualquer hora 3 / Desejo de Portishead, Radiohead, Morphine, Tom Waits, Sonic Youth, PJ Harvey, Nick Cave...
Qualquer hora 4 / Desejo de Cecília, Pessoa, Clarice, Drummond, Neruda, Florbela, Marguerite Duras, Cortázar, Borges...
Qualquer hora 5/ Desejo de Bergman, Truffaut, Fellini, Win Wenders, Almodovar, David Lynch, Wood Alen, Polanski, Sokurov, Buñuel...

Sempre / Desejo

Meu corpo / Desejo do seu


O amor é a união de duas solidões que se respeitam e convivem harmoniosamente.


Impressões depois de terminar o livro Cartas a um jovem poeta de Rainer Maria Rilke...

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Deveria ser proibido sair de casa sem



Imagem roubada, mas perfeita.


"Do not fear mistakes. There are none."

Miles Davis

domingo, dezembro 10, 2006


Gastos os casos então segue pra mim
Sem mito, flor ou história
Euvocê
Explícitos ardores
Obscenos enfim
É tarde
Nós de tarde
Abraça
Uma luz delicada
Outras tantas
Atingem um deslugar obscuro
Quem é você?
Atiça a matéria enluarada na dúvida de mim...

"Não se preocupe em entender. Viver ultrapassa todo o entendimento."

Clarisse Lispector

sábado, dezembro 09, 2006


Distante, se tanto, do ponto de origem
Ele está comigo e não me acalma
Ou abre janelas e não apazigua
Deus e o diabo incompletos

Lembra-se...

Humano preso com alfinetes
Sem chegar, nem tarde, inteiramente
a outro lugar

segunda-feira, dezembro 04, 2006

Roberto Carlos - Você Não Serve Pra Mim


Não fique triste , não se zangue
Com tudo que eu vou lhe falar
Sinto demais, porém , agora
Tenho que lhe explicar
Você comigo não combina
Não adianta nem tentar
Não vejo mais razão nenhuma
Para continuar

Não quero mais seu amor
Não pense que eu sou ruim
Vou procurar outro alguém
Você não serve pra mim, não serve pra mim

Uma palavra de carinho
Nunca ouvi você falar
Seu beijo tão indiferente
Foi o que me fez pensar

No tempo que eu estou perdendo
No amor que eu tenho pra dar
Deve existir alguém querendo
O que você não quis ligar

Não quero mais seu amor
Não pense que eu sou ruim
Vou procurar outro alguém
Você não serve pra mim, não serve pra mim

Pode ser que alguém
Lhe queira dar um grande amor
Quero que você seja feliz
Com outro alguém porque eu ...

Não quero mais seu amor
Não pense que eu sou ruim
Vou procurar outro alguém
Você... não serve pra mim

Não serve pra mim, não serve pra mim.


sexta-feira, novembro 24, 2006

Daquela janela

Havia me esquecido o quanto é bonito o por do sol visto daquela janela...
Muito anterior a nós.
Muito anterior a seus medos...
Janela de madeira.
Venesianas.
Desenhos de luz na parede.
Olhinhos curiosos espiando pelas gretas de rua.
Vendo sem querer ser vista.
Também se abria em seis partes!
As pernas pra fora.
Pés descalços balançando.
Dedinhos vasculhando cada fresta à procura dos besouros coloridos.
Verdes, rosas, até dourados tinha.
Caixas de fósforos para servir de casa.
Vento.
Cheiro de chuva.
Parece que o dia não quer ir embora...
Vai chorando enquanto a noite chega.
Fecha a janela.
Ela também parece chorar junto.
Várias gotas percorrem os vidros.
De nariz colado a menina insiste.
Quer ver o restinho do dia escorrendo lá longe.

Borboletas na barriga

Borboletas na barriga...
Não sabia o que significava.
Na verdade conhecia bem a sensação, mas não conhecia a expressão.
Perfeita, posso dizer...
Quero de novo borboletas na barriga!
Muito tempo sem senti-las...
Adolescência talvez?
Claro que não!
Sou intensa demais pra isso.
Seria triste demais se há tanto tempo não as sentisse batendo suas asas...
Faz tempo.
Algum tempo.
Nem tanto assim.
Tempo...
O suficiente para tornar possível que elas nascessem e voassem de novo.
Agora posso, permito, desejo.
E antes?
Por que não antes?
Não dá pra ser inteira quando não nos sentimos inteira.
Era preciso esvaziar tudo primeiro.
Se perder até o fim...
Pra que se prender a este antes?
Não vou me desculpar pela impossibilidade anterior.
Esta impossibilidade era necessária.
Essencial, posso dizer.
Não quis deixar arranhões, muito menos machucados maiores.
Achava que não o fazia.
Acreditei realmente nisso.
Parece que me enganei...
Será que me enganei tanto assim?
Consegue receber o que vês agora?
Talvez não.
Está aqui.
Aqui uma mulher de pé, inteira, nua.
Quente e frio, nunca o morno (que como dizia meu pai, só faz vomitar).
Sei lá o que quer fazer com isso...

sexta-feira, novembro 17, 2006

Insônia

Tento de novo.
Nada.
Quem sabe outro travesseiro?
Troco a colcha pelo edredon antigo, tão conhecido.
Será isso?
Um livro chato.
Mesmo a informação mais chata parece alimento...
Ela não para!
Apagar a luz mais uma vez.
Tiro as meias, as coloco de novo...
TV ligada quase sem som.
Mais quanto tempo isso vai durar?
Sei bem a resposta...
Seis horas da manhã o corpo consegue ganhar a briga.
Por pouco tempo, é verdade.
7:30, 8:00...

quinta-feira, novembro 16, 2006


As vezes
A gente se embaraça na frente dos outros
Aquém/além de nós mesmos estamos
Flutuação explícita de impossível fantasia...


quinta-feira, novembro 09, 2006


"Entre mim e mim há vastidões bastantes

Para navegação dos meus desejos afligidos."


Cecília Meireles



Lugar Errado

Falta casa nesta casa!
Parece que falta você...
_ Desculpa, não entendi...
Falta riso, faltam casos, falta alma.
Até sono parece faltar!
Parece que aqui bebe-se tristeza.
Come-se cansaço.
No cardápio só trabalho.
Sempre foi assim?
_ Não sei dizer... Acha que falta? Falta bossa?
Falta.
Parece o lugar errado...

terça-feira, novembro 07, 2006

Nesta tarde, em frente à janela do quarto, num fio de luz, um pardal estava parado na maior displicência da graça.
Olhando não sei pra onde...
Tentando não sei o que...
Talvez estivesse cansado.
Quem sabe só esperasse o sono.
Sono que logo chegaria com a noite que começava a escorrer.
Parecia tão feliz o bichinho!
Não que cantasse sem parar!
Pelo contrário.
Trazia um silêncio...
Trazia uma calma...
Temos mania de achar que felicidade é ruído, movimento, companhia, pulsação.
Parece que precisamos do burburinho.
Precisamos desviar a atenção do "nosso" silêncio...
Aquele silêncio, que deixa ouvir o eco do pensamento profundo.
É importante deixar o mundo de vez em quando!
Vou me assentar num lugar distante, longe do pisar da matéria...
Distante nada!
Não há lugar mais próximo!
Difícil de alcançar às vezes, é verdade.
Trago sempre ele comigo...
Mesmo quando esqueço de visitá-lo, deixo passar muito tempo, ele não deixa de existir.
Resolvi caminhar de novo por lá.
Tirei teias de aranha.
Limpei fuligem de antigas dores.
Varri desentendimentos.
Arranquei alguns matos que não me deixavam andar direito.
Andei...
Andei por lá sem pressa.
Sem hora marcada.
Ficou tão longe o barulho do mundo!
Busquei aquela pedra do silêncio onde antes costumava me assentar.
O pensamento não era mais isolado.
Esbarrava em muitos outros pensamentos...
Chorei.
Chorei um novo despertar.




"Nada lhe pertence mais que seus sonhos
."

Nietzche

sábado, novembro 04, 2006

Amor de Ostra


"Nunca soube como as ostras amam.
Sei que elas têm um jeito suave de estremecer
diante da vida e da morte.
Tens um jeito de acomodar teu corpo ao meu
como na concha.
Eu não sabia como as ostras amam
até que duas pérolas brotaram de teus olhos
no mar da cama."

Affonso Romano de Sant'Anna

segunda-feira, outubro 16, 2006



Como disse uma vez o grande poeta Drummond: "A pior ausência é aquela que podemos tocar com a mão."



quarta-feira, outubro 11, 2006

O Pássaro da Alma

Em um “passeio” pela internet.
Passeio este corriqueiro de noites insones.
Entrei ao acaso em um blog de uma portuguesa de Aveiro chamada Cris e acabei lendo um texto lindo que ela escreveu sobre uma conversa dela com o filho João de cinco anos.
O Pássaro da Alma...
Também tenho um João na minha vida.
Mais ou menos com a mesma idade...
Sobrinho lindo que me faz dormir com carinho no rosto enquanto eu deito do seu lado pra "ele" dormir.
Criança especial que imaginei me contando a mesma história.
Me olhando com aqueles olhinhos doces de longos cílios...

"Foi o teu Pássaro da Alma que abriu a gaveta de estar zangado?"

Esta tinha sido a pergunta do João de Portugal pra sua mãe, pulando no seu colo, quando, por algum motivo esta acabou sugerindo umas palmadas.
Surpresa, sem entender o que significava aquela pergunta, continuou sugerindo umas palmadas.

“Foi o teu Pássaro da Alma?”

Insistia o pequeno.

“_ Que conversa é essa?
_ Tu não sabes que vive um pássaro dentro de nós? Eu conto-te mamãe! Ele chama-se Pássaro da Alma e vive em um sítio muito fundo dentro do peito das pessoas... foi a Mafalda que nos contou hoje...
_ E esse sítio... ?
_ É a nossa alma mamãe! E lá, no fundo dela, existem muitas gavetas... a gaveta de estar zangado, a de ficar contente, a de ter sono, de ter fome, a de ficar triste, a de chorar... e até as gavetas de ter vontade de dar coisa às pessoas!
_ Que coisas filho?
_ Beijinhos... queres um? Se eu te der um beijinho pode ser que o teu Pássaro da Alma feche a gaveta de estar zangado...”

Imagino seus olhinhos, sua carinha de menino esperando da mãe uma resposta. Uma resposta que confimasse esta história linda contada pela "Mafalda".

“O Pássaro da Alma já fechou a gaveta do estar zangado, mas disse-me que voltava a abrí-la se tu fizesses asneira outra vez... Por isso vamos lá a pensar os dois no que havemos de fazer para o Pássaro da Alma só abrir as gavetas das coisas boas... O que achas?
_ Mas eu já sei! Olha, não podemos trancar as gavetas sem ele ver, porque as gavetas não têm chaves, mas podemos ter vontade de fazer as coisas bem e o Pássaro da Alma passa as coisas boas para as gavetas de cima e esquece-se das gavetas de baixo, onde ficam as coisa más... Ele gosta de beijinhos e tu também. Eu dou-te muitos beijinhos, não faço mais asneiras e pronto!
_ Combinado! Vamos lá ajudar o Pássaro da Alma a arrumar as coisas boas nas gavetas de cima! Dá cá um beijo grandeeeeeeeeeeee!”


Não consegui disfarçar um sorriso quando acabei de ler esta história.
Pensei no "meu" menino.
Meu sobrinho querido dormindo no quarto ao lado...
Sua sinceridade de criança.
Sua magia, que com um abraço apertado e gostoso faz meu Pássaro da Alma fazer ruídos no meu peito nos dias cinzentos...
Organizando as gavetas...
Esquecendo das gavetas de baixo...
Serenando minha alma...
Reservando a gaveta mais de cima para os mais doces momentos!
E sempre!
Sempre lembrando de deixá-la aberta...


"... amor será dar de presente um ao outro a própria solidão?
Pois é a coisa mais sublime que se pode dar de si."


Clarice Lispector



sábado, outubro 07, 2006

Bella

Bella,
como en la piedra fresca

del manantial, el agua

abre un ancho relámpago de espuma,

así es la sonrisa en tu rostro,

bella.

Bella,

de finas manos y delgados pies

como un caballito de plata,

andando, flor del mundo,

así te veo,
bella.

Bella,

con un nido de cobre enmarañado

en tu cabeza, un nido

color de miel sombría

donde mi corazón arde y reposa

bella.


Bella,

no te caben los ojos en la cara,

no te caben los ojos en la tierra.

Hay países, hay ríos
en tus ojos,
mi patria está en tus ojos,
yo camino por ellos,
ellos dan luz al mundo
por donde yo camino,
bella.

Bella,
tus senos son como dos panes hechos
de tierra cereal y luna de oro,
bella.

Bella,
tu cintura
la hizo mi brazo como un rio cuando
pasó mil años por tu dulce cuerpo,
bella.
Bella,
no hay nada como tus caderas,
tal vez la tierra tiene
em algún sitio oculto
la curva y el aroma de tu cuerpo,
tal vez en algún sitio,
bella.

Bella, mi bella,
tu voz, tu piel, tus uñas,
bella, mi bella,
tu ser, tu luz, tu sombra,
bella,
todo eso es mío, bella
todo eso es mío, mía,
cuando andas o reposas,
cuando cantas o duermes,
cuando sufres o sueñas,
siempre,
eres mía, mi bella,
siempre.

Pablo Neruda


Presente de um amigo...


sexta-feira, outubro 06, 2006

Declaração de Direitos

Tenho pleno e declarado direito
De andar por aí
Chutando pedras e assoviando canções de ninar
De rir para árvores e passarinhos
Apesar dos preceitos e preconceitos.

Tenho pleno e declarado direito
De escrever versos
Sem rimas, pontos ou vírgulas
No passo do tempo que passa
No ritmo da minha mão.

Tenho pleno e declarado direito
De buscar a calçada
Sentar no canto do espaço
E em um passo de dança, o futuro
De novo traçar.

Tenho pleno e declarado direito
De rabiscar traços de infância
Voltar o giro da roda
Ser capa de historinha
Juntar borboletas, verdes, azuis...

Tenho pleno e declarado direito
De viver sonhos
Na realidade de cada dia
De amar o amor
Independente de quem me amar.

Tenho pleno e declarado direito
De exercer
A minha liberdade
E escolher
A minha própria escravidão.

terça-feira, outubro 03, 2006


"... Quero brincar no teu corpo feito bailarina
Que logo se alucina
Salta e te ilumina
Quando a noite vem
E nos músculos exaustos do teu braço
Repousar frouxa, murcha, farta
Morta de cansaço..."

Tatuagem - Chico Buarque

segunda-feira, outubro 02, 2006

Cure For Pain

Acordei lembrando de um querido...
Espero que esteja bem.
Carinho.


Morphine - Cure For Pain

Where is the ritual
And tell me where where is the taste
Where is the sacrifice
And tell me where where is the faith
Someday there'll be a cure for pain
That's the day I throw my drugs away
When they find a cure for pain
Where is the cave
Where the wise woman went
And tell me where
Where's all that money that I spent
I propose a toast to my self control
You see it crawling helpless on the floor
Someday there'll be a cure for pain
That's the day I throw my drugs away
When they find a cure for pain
When they find a cure for pain
When they find a cure find a cure for pain

sexta-feira, setembro 29, 2006


Nem era a pista perfeita!
Não, nem era.
Parecia não se importar...
Olhos fechados, sorriso no rosto, a nuca molhada.
O corpo todo molhado!
Calor!
Sem se preocupar por dançar sozinha, com amiga, ou com amigo.
Sem distribuir olhares.
Sem procurar olhares.
Sem querer saber de nada lá fora.
Música!
Dançando até a exautão...
Menina?
Mulher?
Feliz!!!

quinta-feira, setembro 21, 2006



"... Corro perigo como toda pessoa que vive. E a única coisa que me espera é exatamente o inesperado. ..
"

Clarice Lispector


terça-feira, setembro 19, 2006

Vento forte sopra folhas mortas.
A manhã chega.
Vem escorrendo pelos morros, acariciando os telhados...
Sol tímido aquecendo o mundo...
Bom dia!!
Um ótimo começo de conversa!
Ninguém ali.
Que fazer com este vício de distribuir carinho?
Que tal utilizar os recursos "modernos"?
Telefone, internet...
Correu a agenda do celular, a lista de e-mail, o msn dos amigos, as páginas de mensagens...
Não bastou.
Vício é sempre vício, mas parecia ter acordado "crescido".
Precisava mais...
Tomou um banho, quente, demorado.
Um deixar ficar, sonolento ainda, entregue.
Gostosa a sensação da água forte na nuca, depois escorrendo pelo corpo...
Sem pressa.
Se vestiu.
Arrumou a roupa como dava.
Com as asas...
Anjo da guarda desempregado...
Trazia um desejo de cuidar!
Era mais que desejo de distribuir colo, comum da sua natureza maternal.
Queria um verdadeiro cuidado e carinho com tudo o que a envolvia, cercava.
Saiu.
Sem escolher ao certo rua ou avenida, caminho.
Sem prestar tanta atenção aos sinas de trânsito.
Foi.
Foi cuidar.
"Cuidar da vida".

sexta-feira, setembro 15, 2006

"Não somos os mesmos,
mas somos mais juntos.
Sabemos mais uns dos outros.
E é por esse motivo que
dizer adeus se torna mais complicado.
Digamos, então,
que nada se perderá.
Pelo menos, dentro de nós..."

Guimarães Rosa

quinta-feira, setembro 14, 2006

Uma luzinha riscou a escuridão deixando pingos de luz.
Parecia um vagalume...
Há quanto tempo não via um!
Vagalume na cidade?
Estranho...
Lá no alto a lua.
Aquela, que não está mais cheia...
Minguando.
Quase nova!
É!
O jeito é sair de casa.
Sair, em busca de uma conversa...
Vou caminhar pelas ruas, pelas avenidas...
Assentar em um café, bar, banco de praça...
Sou capaz de conversar, ou melhor...
Sou capaz de ouvir a noite toda.
O que será que acontece, de vez em quando, com o espírito da gente?
Há pouco, bem pouco, o meu caminhar era, estava, um simples caminhar.
Agora não.
Minha alma está aberta!
Tenho ânsias de olhar, conversar, sentir.
Minha vontade é de dar atenção.
Dar atenção a tudo...

quarta-feira, setembro 13, 2006


A lua não está mais cheia.
Minguante.
Minguando.
Novo ciclo...
Nova fase...
Novo tempo.

Luz suave, macia, nua.
Entregue entre os lençois...
Move serena.
Se enrosca, enovela, mistura
Se funde...
Respira ofegante, geme, sussura.
De olhos fechados suspira...
Torpor.

Noite fresca entra pela janela.

Se aninha.

Que janela é esta?
Não estava ali antes.
Era outra a janela!
Conhecida...
De outro tempo ainda, mais distante.
Parece diferente!
Era outra a fase da lua...

Lua Nova.
Lua Crescente.
Lua Cheia de novo...

Delícia desenhar colorido!!
Leve, leve...

segunda-feira, setembro 11, 2006



A respiração quente...
A nuca nua...
Se vira entregue.
Cerra os olhos.
Se deixa ficar...